Damos começo ao passeio com um pé no Algarve e outro no Alentejo, uma vez que a vila de Odeceixe se alarga dos dois lados da ribeira de Seixe – a fronteira natural entre as duas regiões mais a sul do país.
É um bom lugar para ir acomodando devagarinho, à medida que o Sol se levanta no horizonte, passear com calma pelas ruas estreitas e, num assomo de coragem, ainda pela fresca, subir até ao Moinho de Vento. Em pleno funcionamento, deixa-nos observar todo o modo artesanal de moagem de cereais, onde o moleiro vigia a direcção do vento e vai transfigurando o trigo em farinha. Aos nossos pés abre-se um autêntico cartão postal feito pelo casario branco da vila e pela várzea atravessada pela ribeira serpenteante. Por detrás adivinha-se a Praia de Odeceixe, onde a manhã passará num ápice.
Possui Bandeira Azul e oferece tanto banhos de mar como de rio. No refluxo formam-se correntes perigosas, sobretudo nos dois extremos da praia, mas na baixa-mar pode-se caminhar umas largas dezenas de metros com pé.
É uma das mais vastas e bonitas da região, o que se traduz em algum acumulação nos meses de Julho e Agosto. Sobretudo familiar, dispõe de uma área legal naturista, na zona sul – um areal com cerca de 400 metros de comprimento, mais pacífico.
Com o Sol a pino, há que regressar à vila, e, à sombra de uma esplanada, no Largo 1.º de Maio, planear o percurso em direcção a norte. Antes, porém, passamos pela Adega-Museu de Odeceixe, um grupo museológico que pretende recriar as antigas adegas da região. Era nestes espaços que os produtores de vinho atraíam os amigos para as provas dos néctares, arqueavam negócios ou ofereciam a “adiafa” (refeição ou merenda presenteada aos trabalhadores pela conclusão de uma tarefa agrícola ou de uma construção).
O antecipado da hora leva-nos de novo à estrada. O almoço será na Zambujeira do Mar, no restaurante O Sacas, a cerca de meia hora de caminho. Abriu as portas há mais de 20 anos como simples tasca de pescadores, instalada junto ao porto. Hoje “subiu” até junto da estrada (no mesmo local) e continua a ser concorrido pelos homens do mar (para quem há sempre um espacinho reservado na grelha), mas oferece, além dos antigos petiscos, propostas menos vulgares, à semelhança de bifes de pampo, raia à francesa e feijoada de búzios – uma das especialidades da casa – entre outros pratos de produção própria. Alguns são sonhados pela proprietária, Manuela Santos, que nem durante a noite se desliga dos tachos e panelas; outros pensados pela filha, Sílvia, igualmente cozinheira de mão-cheia. De serviço no carvão fica sempre Fernando Santos, a quem ficámos a dever um belíssimo sargo grelhado.
Após semelhante repasto, a siesta parece-nos obrigatório. Ainda para mais, a Herdade do Touril de Baixo, onde iremos pousar, é quase vizinha. Quem nos recebe é Luís, o dono desta propriedade, há cinco gerações na família, onde ainda se cria gado e faz crescer cereais.
Com mais de trezentos hectares, estende-se até ao mar e à belíssima Praia do Tonel – areal apenas acessível aos mais aventureiros, pois implica a descida a pique por carreirinhos estreitos pouco recomendáveis a quem sofra de vertigens e (ou) bom senso. Caminhadas e passeios de bicicleta (sempre disponíveis para os hóspedes) são actividades opcionais aos mergulhos no Tonel.
De qualquer modo, caso não resista a estas praias despoluídas abrigadas em falésias magnificentes, procure pelos areais da Zambujeira, dos Alteirinhos e do Carvalhal – não ficam longe.
Por ora sabe bem ficar a preguiçar junto à piscina ou na suite acabada de estrear, que, ao contrário dos clássicos quartos instalados na casa-mãe, foi decorada num estilo mais contemporâneo e despojado.
Quando a noite se abate sobre a vila da Zambujeira do Mar está na hora de caminhar as esplanadas, petiscar uns percebes e consumir o descontraído ambiente balnear.
Nas falésias poisam corvos-marinhos, pombos-da-rocha, garças
e até cegonhas, que aí nidificam, com vista para o mar
Ao lusco-fusco qualquer excesso de betão passará despercebido. Só admiramos a harmonia das casinhas tipicamente alentejanas e o “fresco” que sopra de oeste.
Pelo menos, até chegarmos ao mais popular bar das redondezas, o Espera-me Entrando.
Enviar um comentário